Uma margarida
pelas ruas

A margarida Bernadete Pedra Cordeiro Machado começa seus dias de trabalho na limpeza em Florianópolis, no Centro Histórico, saudando todo mundo. “É bom dia pra lá, é bom dia pra cá”. Quem vê o sorriso no rosto, não imagina as dificuldades que a manezinha nascida no Morro das Pedras ainda encara diariamente.

De família humilde, Bernadete matou muitos leões por dia antes de chegar onde está. Quando criança, trabalhou no campo com os pais e, aos 11 anos, tornou-se empregada doméstica. Manteve-se na profissão que a ajudou a cuidar dos irmãos e, mais tarde, dos seus filhos por muitos anos. No entanto, os caminhos da vida levaram a margarida para as ruas.

Durante quatro anos, Bernadete enfrentou a dependência química que a fez ir morar nas ruas. Após passar por tratamento, foi em um concurso da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap), que viu a oportunidade de recomeçar sua vida. “A mulher que antes morava nas ruas, hoje ajuda na limpeza delas”, conta com muita felicidade. Apesar de gostar do que faz, algumas coisas lhe deixam insatisfeita. Entre elas, o tratamento das pessoas nas ruas com os profissionais de limpeza e a decisão da prefeitura de manter a Passarela Nego Quirido como um dos pontos de trabalho da Comcap. “É uma dificuldade subir naquele lugar com nossos materiais todos os dias. Fora que fica muito longe do nosso posto de trabalho”, reclama.

Aos 58 anos, o que Bernadete espera para seu futuro é poder mudar do Monte Cristo, bairro da região continental, continuar frequentando a igreja onde afirma ter se encontrado e desfrutar de sua aposentadoria acompanhada dos filhos, netos e com o amor que contou nutrir há 10 anos. “Eu não tenho mais tempo para perder”, ri enquanto despede-se para tomar um copo de café.