Na era do imediatismo, alguém vê o tempo passar
Vendendo jornais e revistas na Banca da Praça XV, Solange Maria mantém viva a cultura do jornalismo impresso.
Enquanto atende aos clientes, a senhora que vende jornais e revistas no centro de Florianópolis (SC) tenta me mostrar o trabalho que a Universidade Federal de Santa Catarina está produzindo sobre a Banca da Praça XV. Depois de muito procurar, ela encontra o documento no Whatsapp, e pede para registrar tudo por meio de fotografias. Com os olhos brilhando, Solange Maria, dona da banca há 50 anos, começa a contar a sua vida, como alguém que viu de perto o ápice - e a queda - do jornalismo impresso.
Atualmente aposentada, a comerciante tem um motivo para estar sempre trabalhando: manter a cultura viva. A história começou quando o sogro, que trabalhava como taxista no ponto ao lado, comprou a banca de um amigo. A sogra assumiu parte dos negócios, e, depois, foi a vez de Irival Costa, marido de Solange. Daí em diante, o casal trabalhou incansavelmente distribuindo jornal para as assembleias e clientes que se juntavam na porta para ter acesso às principais notícias do dia. “Meu marido precisava buscar as pilhas de jornal (na distribuidora) nas costas duas vezes. Os fregueses faziam fila, até brigavam”, conta a vendedora.
Além de dar lugar para a venda de jornal, a Praça XV foi também palco de grandes momentos da vida de Solange. Aos 16 anos, conheceu o futuro marido enquanto andava por ali com duas amigas. Usou o dinheiro que conseguia trabalhando como manicure para fazer os primeiros investimentos na banca e, alguns anos depois, criou a rotina de levar os quatro filhos para o lugar. Lá, eles brincavam, contavam sobre o dia a dia na escola, olhavam as revistas infantis e dormiam na parte de baixo do balcão.
Com o crescimento da publicação de notícias na internet, sobraram poucos clientes para os impressos e poucos fornecedores de jornal. Para manter o funcionamento, a comerciante precisou investir em outros produtos: cigarros, refrigerantes, biscoitos e sorvetes. No entanto, os compradores fiéis que continuam por ali carregam Solange no coração. “Temos uma amizade bonita. A história de vida dela me inspira, pois ela não se deixa abater”, conta Marcos Augusto, que sempre visita a banca para ler a seção de política do jornal Zero Hora enquanto conversa com a dona.